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abril 1

Discurso do Sr. Presidente da Câmara Municipal, João Miguel Henriques

Srª. Presidente da Assembleia Municipal;
Srs. Vereadores;
Srs. Deputados Municipais;

Entidades militares e religiosas presentes;
Representantes das entidades e instituições locais aqui representadas;
Minhas senhoras e meus senhores.

Permitam-me que comece este discurso por vos ler uma pequena quadra de um poema de Sophia de Mello Breyner, poema esse, que de uma forma simples mas também de uma forma profundamente sentida e emotiva nos transmite e retrata os sentimentos de todos aqueles que viveram intensamente aquele dia maravilhoso de Abril:

"25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo"

As minhas primeiras palavras neste ato solene, em que assinalamos e comemoramos uma data tão marcante da nossa história recente mas sobretudo da nossa democracia vão exatamente dirigidas para a Srª. Presidente da Assembleia Municipal. Exmª. Srª. Presidente, a democracia não se apregoa, pratica-se e a senhora sabe-o muito bem. Hoje, no dia em que comemoramos 40 anos da conquista da democracia e da liberdade para o nosso país a Srª. Presidente, ao convocar os eleitos locais, aqueles que o povo Poiarense escolheu como os seus legítimos representantes em resultado de um ato livre e democrático que foram as últimas eleições autárquicas, e ao dar a oportunidade a esses eleitos de, de uma forma livre e democrática, sem medo de quaisquer retaliações, poderem expressar aquilo que são as suas opiniões perante aqueles que os elegeram, demonstra claramente e inequivocamente que para se fazer Parabéns Srª. Presidente e obrigado por nos proporcionar a todos este maravilhoso momento.

Ao comemorarmos esta data histórica, não poderíamos fazê-lo sem nos referirmos aqueles protagonistas que, há 40 anos atrás, foram os grandes obreiros do acontecimento que hoje assinalamos: Os nossos Capitães de Abril.
Foram eles os grandes responsáveis pelo processo revolucionário desde o seu planeamento minucioso à sua concretização efetiva naquele dia da Primavera de 1974. Foram eles que, com a sua astúcia, coragem e empenho, permitiram que hoje possamos viver num País diferente e tendencialmente mais justo para todos.

Mas, infelizmente, nem todos os responsáveis políticos demonstram hoje essa capacidade e humildade de reconhecer o mérito daqueles que, com a sua ação, contribuíram para criar as condições para que todos possamos ser responsáveis políticos eleitos em sufrágio livre e democrático. Nesse sentido, não poderia deixar aproveitar a oportunidade que me é dada para publicamente lamentar a atitude daquela que é a casa mãe da democracia Portuguesa, a Assembleia da Republica e nomeadamente da sua presidente. Considero lamentável que, sem qualquer justificação plausível, seja por protagonismo ou teimosia, a Srª. Presidente da Assembleia da Republica, Drª. Assunção Esteves, tenha resolvido comemorar os 40 anos da democracia de costas voltadas para aquelas que com a sua coragem e a sua luta permitiram que hoje, ela própria, possa ocupar e desempenhar o cargo que ocupa em resultado de uma eleição livre e democrática.

Felizmente, Vila Nova de Poiares, optou por um caminho diferente e resolveu não só reconhecer como homenagear precisamente os capitães de Abril, os nossos heróis de Abril, na pessoa do Senhor capitão Fernando José Salgueiro Maia.
Discreto, homem de causas avesso a protagonismos mas sobretudo detentor de uma coragem invulgar, o Capitão Salgueiro Maia é sem dúvida hoje reconhecido e aceite por todos como uma das personalidades mais admiradas e consensuais da história recente do nosso País, pela importância fundamental que assumiu na revolução dos cravos, símbolo da nossa democracia. Por essa razão, é com um orgulho enorme que hoje, em Vila Nova de Poiares homenageamos esse símbolo eterno da Democracia e da Liberdade em Portugal, dando o seu nome a uma das ruas do nosso concelho. A escolha da rua da Escola E.B. 2,3/S Dr. Daniel de Matos, para passar a chamar-se Rua Capitão Salgueiro Maia, tem também a particularidade e o objetivo de dar a conhecer às gerações mais jovens o nome de uma personalidade que contribuiu de uma forma determinante para que hoje possam viver num país e numa sociedade que se rege por esses valores universais de cidadania que são a democracia e a liberdade.

Aproveito, por isso, para convidar todos os presentes para o descerrar da placa de toponímia com o nome da Rua Capitão Salgueiro Maia que terá lugar imediatamente após esta Assembleia Municipal.

abril 2

A agora Rua Capitão Salgueiro Maia (junto ao Jardim de Homenagem ao Poiarense)

Os mais jovens deverão conhecer e perceber toda a importância que teve a revolução de Abril nas suas vidas. Muito mudou na vida dos Portugueses desde aquela data, tendencialmente, para bastante melhor. Os Portugueses, de uma maneira geral, e os jovens, em particular, tem hoje acesso a um conjunto de apoios e oportunidades que seriam impensáveis sem a mudança de regime operada. A universalidade do serviço nacional de saúde, da Escola Pública, dos regimes de apoio social, do acesso à justiça, são apenas alguns exemplos de conquistas operadas com Abril que melhoraram de forma muito significativa a qualidade de vida dos portugueses tornando-a mais justa e igualitária em termos de oportunidades para todos independentemente da sua proveniência e do seu estrato socioeconómico.

O poder local democrático, com a possibilidade de os cidadãos passarem a escolher os seus representantes locais é também uma das conquistas de Abril. E foi o poder local que, de norte a sul do país, pela sua relação privilegiada de proximidade com as populações que, através da construção de um conjunto de infraestruturas básicas, contribuiu definitivamente para a melhoria da qualidade de vida das mesmas. Foi o poder local que ao longo dos últimos 40 anos construiu estradas e arruamentos, escolas e creches, hospitais e Centros de Saúde, levou a água canalizada, a eletricidade e o saneamento básico a casa das pessoas, desenvolveu a cultura, ordenou o território, entre tantas outras medidas, contribuindo dessa forma não só para a melhoria da qualidade de vida generalizada de todos os cidadãos mas também reduzindo as assimetrias entre as regiões rurais e urbanas, entre o litoral e o interior, aproximando as pessoas do poder de decisão e dos serviços de atendimento público em geral.

Assistimos ao longo dos últimos 40 anos a uma melhoria progressiva da qualidade de vida de todos os cidadãos. Os nossos pais viveram genericamente melhor que os nossos avós, nós vivemos genericamente melhor do que os nossos pais e supostamente os nossos filhos iriam viver melhor do que nós. No entanto, esta transição geracional com ganhos evidentes na qualidade de vida das gerações mais jovens parece agora estar ameaçada.

Para se desenvolver e recuperar o tempo perdido em relação aos países mais evoluídos, tivemos naturalmente que efetuar investimentos que levaram a que nos endividássemos. Ora, as facilidades de acesso ao crédito que matreiramente nos foram sendo concedidas levaram a que muitas das decisões politicas tomadas não tenham acautelado convenientemente o bem-estar e sustentabilidade das gerações vindouras deixando-lhes uma herança pesada com uma dívida imensa causada, em muitos casos, por opções de investimento erradas em projetos megalómanos e sem sentido.

O momento é agora de recuperação e reequilíbrio mas o excesso de endividamento, a pressão dos mercados financeiros e sobretudo, as exigências cegas e intransigentes de uma troika insensível e despreocupada com o bem estar dos Portugueses estão a retirar-nos sucessivamente os ganhos que acumulámos após o 25 de Abril. Aquilo que hoje nos é apresentado como a fórmula mágica para vencer a crise é o empobrecimento generalizado da população. A redução de salários e de pensões, o aumento descomunal de impostos, a redução dos direitos laborais, a destruição do estado social, indiscutivelmente uma das maiores conquistas do poder democrático pós 1974, são apenas alguns dos exemplos daquilo que está a ser feito ao nosso País e ao nosso Povo, sem que daí sejam visíveis quaisquer resultados ao nível da tão apregoada recuperação económica.

Todos sabemos que nos endividámos excessivamente para recuperar o atraso causado por anos de ditadura fascista. Todos sabemos que foram cometidos excessos. Mas sabemos também que na hora de pagar a fatura, os sacrifícios deveria ser divididos de forma justa e equitativa por todos, no entanto, é o povo que mais uma vez é chamado a resolver o problema causado pelo esbanjamento financeiro causado por politicas irresponsáveis e opções e prioridades mal definidas.

E tudo isto deverá fazer-nos parar e pensar. Afinal, que futuro deixámos nós para os nossos filhos? Que oportunidades preparámos para a nossa juventude? O que acontecerá à geração mais bem formada e preparada de sempre fruto dos grandes investimentos efetuados na sua educação?

A resposta é muito simples mas simultaneamente dolorosa. Deixámos uma fatura imensa para pagar e uma organização social e económica debilitada que põe em causa aquela velha ideia de que tendencialmente os filhos deverão viver melhor que os pais.

Mas são também os jovens, enquanto parte interessada neste problema quem terá que assumir responsabilidades, tomar a iniciativa e não esperar que outros decidam por si. São os Jovens que terão que começar a preparar o futuro, participando na vida democrática do País, intervindo ao nível da várias entidades institucionais, políticas, académicas, sociais, culturais, entre outras de forma a influenciar o poder de decisão e exigir uma ação responsável e competente dos governantes. Deverão ser os Jovens a fazer uso da sua irreverência, e da sua formação, procurando envolver-se ativamente e fazer uso das conquistas de Abril, lutando pela construção de um país cada vez mais justo, solidário e democrático.

Somos um povo livre, não nos podemos deixar prender ou dominar. Somos donos do nosso destino e não podemos deixar que outros nos imponham ou decidam por nós, quando isso põe em causa o nosso bem estar e a nossa liberdade.

Recentemente, o mundo perdeu um dos seus maiores embaixadores. Nelson Mandela, deixou de estar entre os vivos mas permanecerá eternamente como um dos maiores símbolos para a humanidade pela sua luta pelos valores mais nobres da cidadania como são a liberdade, democracia e igualdade. Na sua obra “Longo
caminho para a liberdade”, Nelson Mandela escreveu:

“Ser livre não é apenas livrar-se das próprias grilhetas, mas viver de uma forma que respeite e promova a liberdade dos outros. (…) Um homem que tira a liberdade de outro homem está prisioneiro do ódio, está fechado atrás das grades do preconceito e da estreiteza de vistas. Não sou verdadeiramente livre se estou a tirar a liberdade a alguém, tão certamente quanto não sou livre quando me é roubada a minha humanidade. Tanto o oprimido quanto o opressor são espoliados da sua humanidade”.

A terminar, permitam-me só mais uma referência. Não podia deixar de fazer.

Hoje, dia 25 de Abril de 2014, no dia em que se comemora a democracia e a conquista da liberdade opinião e expressão, sinto-me um homem imensamente feliz e orgulhoso. E é esta imensa felicidade que, de uma forma emocionada quero partilhar com todos aqueles que hoje dividem comigo este sentimento.

Aconteça o que acontecer nos próximos 4 anos, há um capítulo na história que o tempo não poderá apagar. Em Vila Nova de Poiares, hoje, foi possível fazer-se democracia e nós contribuímos para que isso acontecesse.

Vivam os valores de Abril!

Vivam os capitães de Abril hoje lembrados e homenageados na pessoa do Capitão Salgueiro Maia!

Viva Vila Nova de Poiares!

Viva Portugal!

 

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